
Igrejas não registradas são alvo de prisões, fechamento e vigilância em meio à política de controle religioso do regime de Xi Jinping
O governo da China tem intensificado a repressão contra comunidades cristãs que atuam fora das estruturas religiosas oficiais reconhecidas pelo Estado. Nas últimas semanas, dezenas de pastores e fiéis foram presos em diferentes províncias do país, segundo reportagens internacionais publicadas por veículos como Reuters e Financial Times.
A ofensiva mira principalmente as chamadas “igrejas domésticas” — templos e grupos de oração que funcionam de maneira independente, sem vínculo com as organizações religiosas controladas pelo governo. Esses espaços, que reúnem milhões de cristãos em todo o território chinês, são considerados ilegais pelas autoridades por operarem fora da “Associação Patriótica Católica Chinesa” e do “Movimento das Três Autonomias”, órgãos criados para supervisionar a fé sob a ótica do Partido Comunista.
De acordo com as denúncias, as autoridades chinesas têm invadido reuniões, confiscado materiais religiosos, multado líderes e pressionado comunidades a se registrar oficialmente — o que implicaria submeter pregações e doutrinas à aprovação do Estado. Em alguns casos, pastores foram acusados de “uso ilegal da internet” e “participação em cultos proibidos”.
A chamada “sinificação da religião”, política impulsionada por Xi Jinping desde 2015, busca adaptar todas as práticas religiosas aos “valores socialistas” e ao “nacionalismo chinês”. Para analistas, trata-se de uma tentativa de enfraquecer a influência de instituições independentes e garantir controle total sobre o discurso público.
Relatórios de organizações de direitos humanos indicam que cristãos e membros de outras minorias religiosas continuam sendo alvo de vigilância constante. Em 2024, mais de mil casos de prisões arbitrárias de fiéis ligados a igrejas não reconhecidas foram registrados. Há relatos de confisco de bens, detenções prolongadas e restrições à mobilidade.
Apesar da repressão, o cristianismo segue crescendo na China. Estima-se que o país tenha hoje entre 60 e 100 milhões de cristãos — número superior ao total de membros do Partido Comunista Chinês. Esse avanço, porém, preocupa o regime, que vê nas igrejas independentes uma ameaça à estabilidade política e à autoridade estatal.
Organizações internacionais e líderes religiosos de várias partes do mundo têm condenado a perseguição. Para especialistas, o caso chinês é um alerta sobre o enfraquecimento das liberdades civis e religiosas em regimes autoritários, e sobre a necessidade de a comunidade internacional manter atenção redobrada à situação da fé naquele país.