Por Battista Soarez
(De São Luís – MA)
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FORMADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS, pós-graduando em gestão pública, casado com Thiara Costa Leite e pai de um casal de filhos, o jovem pastor Itaan Costa Leite, 31 anos, é líder na Igreja Evangélica Peniel, Missão Nova Jerusalém, uma rede de congregações espalhada na capital e no interior do Maranhão. Juntamente com uma equipe de pastores e missionários, ele trabalha com projeto social em recuperação de pessoas em situação de drogas, principalmente jovens. Mas é a prática esportiva que é a sua maior paixão, a qual ele utiliza como método terapêutico para acelerar a recuperação dos internos. A missão social-cristã conta com nove unidades terapêuticas e já recuperou centenas de pessoas — na sua grande maioria jovens — em situação de drogas. Para Itaan, isso não tem preço. “O valor que tem uma vida recuperada, livre das drogas, não se pode dimensionar. É uma satisfação que não tem como a gente descrever”, destaca o jovem líder cristão. Para sua surpresa, o público da sua igreja e os jovens ligados ao esporte o convidaram para ser candidato a vereador nas eleições de 2024. Nesta primeira entrevista com este jornalista, para o blog Leitura Livre, jornal Itaqui-Bacanga e parceria com o blog Roney Costa, Itaan falou sobre este e outros assuntos. A entrevista.
Battista Soarez — O senhor nasceu e se criou num ambiente cristão. Estou certo?
Itaan Costa Leite — Sim. Exatamente.
BS — E logo muito cedo decidiu ser um líder cristão. Aliás, muito atuante, por sinal. O fato de sua mãe ser pastora, inclusive muito dedicada, pesou nessa decisão? Ou o senhor sentiu aquele chamado de Deus que é praticamente natural na vida de qualquer líder cristão vocacionado, como sinal dos dons espirituais conforme está escrito nas Escrituras Sagradas?
ICL — Bem, na verdade foram as duas coisas. O fato de minha mãe ser pastora e ter me criado na instrução dos caminhos do Senhor, contribuiu muito com isso. Mas o que pesou mesmo foi o dom de Deus na minha vida. O chamado espiritual para ser líder cristão, ganhar pessoas para Cristo e fazer o que faço hoje, pegando pessoas do universo de vulnerabilidade social, destruídas pelos entorpecentes, e transformá-las em cidadãos de bem, é uma prova de que a minha vocação para o ministério cristão não está relacionada apenas a influência do ambiente em que nasci e me criei. Mas, sim, a uma questão divina. É um chamado espiritual que só tem explicação em Cristo Jesus, nosso Senhor. Por que afirmo isto? Porque sinto prazer e alegria no que faço. Cuidar de pessoas, para mim, não é nenhum peso, nenhuma obrigação, mas, sim, um privilégio. Essa é a prova de que o meu chamado é um dom natural de Deus na minha vida.
BS — O senhor acabou de falar sobre ajudar pessoas. Essa ajuda a que o senhor se refere, gira em torno de que, exatamente?
ICL — Gira em torno de resgatar a cidadania das pessoas e ajudá-las a reconstruir a sua dignidade. No nosso caso, fazemos isso por meio da ajuda terapêutica junto às pessoas que sofrem com as drogas. Fazemos isso por meio do esporte e, também, por meio da instrução educativa e reeducativa através dos princípios cristãos e da evangelização. Não falo de questões religiosas, mas, sim, de construção de caráter, reabilitação social e ascensão financeira para sua sobrevivência. Procuramos promover a reintegração social na vida das pessoas, para que elas tenham de volta o pleno exercício da sua cidadania.
BS — Como é fazer isso na Igreja Peniel?
ICL — É uma das maiores experiências de toda a minha vida. Nós, da Peniel, vamos às ruas ou recebemos contatos de familiares que estão sofrendo com algum parente que está jogado nas sarjetas, totalmente dominado pelas drogas, e, então, levamos essa pessoa para uma das nossas casas de apoio, que são os nossos centros de reabilitação. A pessoa chega na unidade de reabilitação sofrida, destruída, chorosa, definhante e faminta, sem nenhuma condição de continuar a vida. Tempos depois, cuidando dela com amor, carinho e instrução na Palavra do Senhor, a gente vê essa pessoa totalmente recuperada, sorridente, louvando a Deus, empregada, trabalhando e ganhando dinheiro com alguma atividade financeira e falando de Jesus com alegria… Sinceramente, isso não tem comparação. É uma alegria tão profunda que só nos resta glorificar a Deus. Na minha opinião, a igreja não tem sentido se ela não pratica a reconstrução social, emocional, psicológica, financeira e espiritual no âmbito da sociedade. Recuperar pessoas socialmente destruídas foi o que Jesus nos ensinou nos quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Ninguém falou melhor sobre cidadania do que Jesus. E ninguém praticou melhor cidadania do que Jesus. Ele, de fato, é o nosso grande Mestre nesse quesito.
BS — E o que o senhor aprende com tudo isso?
ICL — (Risos…). Eu me sinto muito jovem e, portanto, tenho muito o que aprender ainda. E eu nunca aprendi tanto como eu tenho aprendido todos os dias com esses meninos e com essas mulheres. Comecei a perceber que muitos dos que estão lá no centro de reabilitação estão precisando apenas de um abraço e de uma base familiar. Muitos foram para o crime não porque são bandidos, mas pelo fato de lhes faltar estrutura psicoemocional e inteligência social, coisas que só se adquirem por meio de um ambiente familiar saudável. Aprendi, também, que, à medida que a sociedade altera o conceito e os valores de família, aumentam consequentemente os distúrbios e os problemas sociais. Isso afeta as pessoas, principalmente na fase da adolescência e da juventude, que é quando o ser humano está na fase de aprendizagem e desenvolvimento em todas as suas estruturas inteligentes que contribuem com a sua formação e maturidade emocional, psíquica, cognitiva e espiritual. No momento em que essas estruturas inteligentes são afetadas, o indivíduo sente um enorme vazio interior e, então, busca preencher esse vazio interior com alguma coisa que lhe dê a sensação de felicidade. E o caminho mais imediato para resolver esse problema, na sociedade de hoje, é o mundo das drogas. Infelizmente.
BS — Isso é muito real. Muito clarividente…
ICL — Isso é muito real, muito verdadeiro, e a sociedade, em geral, cada vez mais se afunda na realidade dessa mazela social. Eu costumo falar para os nossos internos que não os tenho como inocentes. Sempre digo para eles que a gente colhe o que se planta. Mas, de certa forma, a gente reconhece que eles foram para o mundo das drogas e do crime porque lhes faltou a principal coisa, que é a base familiar. Cada vez mais que as instituições oficiais do país quebram princípios e valores da sociedade tradicional, como, por exemplo, normalizando as drogas, alterando o conceito de família e protagonizando outras coisas mais que estão fora dos padrões civilizatórios da moral educativa tradicional, mais teremos um mundo evoluído no desrespeito às autoridades, na criminalidade, na violência e na delinquência sóciocomportamental dos indivíduos. Portanto, nossos internos são instruídos com base em valores éticos e morais que os capacitam para serem cidadãos de bem e contributivos na construção de uma sociedade justa e benevolente.
BS — O fato de você ser jovem e trabalhar com jovens, facilita ou dificulta as suas atividades eclesiásticas e sociais?
ICL — Hoje facilita bastante. Mas já senti na pele um pouco de preconceito com o fato de eu ser jovem. Antes, a palavra “juventude” era muito associada a “imaturidade”. Já ouvi muito a reclamação: “ah, tu és muito jovem ainda, tem muito o que aprender”. E isso é uma verdade. Sempre vou estar aprendendo. Independente da idade, sempre estamos aprendendo, diariamente. A todos os momentos aprendemos coisas novas e sempre estamos acumulando experiências. Quando cometemos um erro, por exemplo, aprendemos com ele para não repeti-lo mais na frente. Aprendemos com pessoas mais jovens que eu, aprendemos com os mais velhos e aprendo com aqueles que têm a mesma idade que eu. Isso é fato. Quando fui gestor dos centros de recuperação, sempre trouxe coisas novas, novas ideias que deram muito certo e que surpreenderam a todo mundo. Eu acredito muito no novo. Ninguém nasce pronto. A gente nasce e logo entra num processo de evolução. E esse princípio vale para tudo na natureza. Afinal de contas, competência, para mim, é a capacidade de aprender continuamente, buscar maturidade e evoluir no tempo. “O tempo não para”, já dizia Cazuza, na sua sabedoria musical.
BS — O novo assusta? Causa impacto? Ou dá para conviver bem com os mais velhos que, por vezes, se acham mais experientes?
ICL — Sim! Assusta! Tem muita gente que ainda se assusta com o novo. Mas eu acredito que dá para estabelecer um diálogo entre velhos paradigmas e novos paradigmas. Tudo vai depender de uma relação de respeito entre os dois extremos. A pessoa que traz ideias novas não pode usar isso para afrontar aqueles que têm dificuldade de aceitar padrões de mudança. E aqueles que têm ideias conservadoras devem se conter diante do novo para não confrontar quem tem boas ideias de inovação e que, portanto, busca gerar oportunidade de evolução e crescimento. A base fundamental aí é o diálogo.
BS — O senhor é pré-candidato a vereador de São Luís nas eleições municipais de 2024. Como nasceu essa ideia?
ICL — Como sou cristão e tenho comunhão com o Senhor, costumo dizer que, em primeiro lugar, a ideia nasceu no coração de Deus. Porque, sem Ele, nada tem sentido. E, caso eu seja eleito, a primeira coisa que está na minha consciência é que toda honra e glória sejam dadas a Ele. Depois, não tenho apenas um desejo político. Mas uma vocação social associada ao pensamento político de ajudar pessoas, como eu disse no início desta entrevista. Sem estar na política, eu recupero vidas humanas, na política, certamente, farei muito mais.
BS — Então você quer entrar na política para ampliar esse fazer social que você já executa? É isso?
ICL — Já faz 20 anos que trabalhamos com centros de recuperação. Logo que minha mãe concluiu a faculdade teológica, ela logo teve sua convicção ministerial, já sabendo qual seria a sua missão cristã a partir daquele momento. Ao logo de todos esses anos, muitas e muitas vidas já foram recuperadas. E eu, com o tempo, fui aprendendo que cuidar de vidas humanas, ressocializar pessoas, educar e reeducar sujeitos sociais é, de fato, um trabalho político por excelência. A essência da política é a “polis” grega, que define exatamente o fazer social como construção e reconstrução da sociedade humana em todos os sentidos e em todos os setores sociais. Isso envolve saúde, educação, assistência social, infraestrutura, economia e bem-estar social. Logo, se tornar uma pessoa pública e fazer políticas públicas é só um detalhe a mais e muito significativo na vida do ser político que somos. Como disse Aristóteles, “o homem é um animal político”. Para o filósofo grego, “a política não deveria ser a arte de dominar, mas sim a arte de fazer justiça”. É assim que eu penso.
BS — Você é ligado ao esporte. Certo? Utiliza essa modalidade como método na recuperação de jovens em situação de drogas?
ICL — Sim. O esporte tem um poder fenomenal e muito significativo no equilíbrio psicossocial e na formação do caráter do indivíduo. Nos nossos centros, parte do sucesso na recuperação socioeducativa dos nossos jovens internos deve-se à prática esportiva.
BS — O que o senhor lê? Que autor, na literatura nacional ou estrangeira, inspira você na sua ascensão social?
ICL — Eu leio muitos autores, tanto cristãos quanto seculares. De todos eu procuro extrair um aprendizado. Mas há um autor cristão, já falecido, no qual eu me inspiro bastante, que é o Myles Munroe. Ele é muito bom em matéria de liderança. Dele eu consigo tirar lições que têm me impulsionado tanto como profissional, como na vida pessoal.
BS — E que frase do Myles Munroe você citaria, que o ajuda a refletir a sua vida pessoal e profissional?
ICL — “Visão é a capacidade de enxergar além do que os olhos são capazes de ver”. Essa frase de Munroe tem a ver comigo porque me diz exatamente algo sobre o novo. O novo sempre é uma coisa que aparece de repente e sempre nos surpreende. Isto é visão.
BS — Que palavra define o Itaan Costa Leite?
ICL — “Compromisso”. Eu levo muito a sério isso. Eu tenho compromisso com Deus e com as pessoas em cada coisa que faço. E isso eu quero levar de maneira muito responsável para a vida pública.
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